Muitos frequentadores de terreiros de Umbanda o fazem em busca da tão conhecida “consulta com o guia”. Algumas doutrinas chamam de Aconselhamento, outras de Orientação, mas enfim o que são as consultas com os guias espirituais e qual a maneira correta de se conseguir o que quer?
Antes de mais nada é preciso que se compreenda o que um guia espiritual pode fazer por você, para que assim fique mais fácil compreender as orientações que lhe serão fornecidas nesta postagem. Além disso, em segundo plano, mas em caráter indispensável, é preciso que se tenha ciência de que não existe a verdade absoluta, e que, portanto, o que se transmite aqui é um dos muitos entendimentos de uma das muitas realidades a cerca das práticas de Umbanda.
De início, um guia espiritual tem sua atuação muito ampla, podendo na prática influenciar em vários aspectos da vida humana. Contudo, tal atuação é limitada ao fator energético-espiritual, ou seja, um guia espiritual não pode ir a uma empresa trabalhar no lugar de alguém, não pode fazer comida, lavar roupa, passar roupa, assim como não pode, também, realizar cirurgias materiais, mudanças físicas e emocionais, nem mesmo retirar doenças que estejam impregnadas na matéria1. Assim, é preciso que fique claro que seu trabalho é exclusivo na contraparte espiritual e energética do indivíduo.
Dito isto, compreenda-se que um guia espiritual pode atuar de três maneiras em seu benefício:
- Afastando espíritos negativos, sofredores ou obsessores que estejam atrapalhando sua caminhada material ou então estejam ocasionando dor ou confusão, provocando desarmonia ou até mesmo, em alguns casos, trazendo doenças.
- Neutralizando energias negativas para que deixem de vibrar contra o indivíduo e, posteriormente, envolvendo o atendido em uma camada de energia positiva que tem como finalidade propiciar situações benéficas.
- Aconselhando e orientando o atendido sobre assuntos do cotidiano, abordados sob a ótica de experiência e sabedoria trazida um espírito que já viveu neste plano material e que tem desperta sua memória ancestral que lhe permite, através dos próprios erros e acertos, antever situações e dar à quem procura a palavra de conforto e direcionamento.
Destes três elementos mencionados, os dois primeiros são realizados através do passe espiritual, do qual será falado em momento oportuno. Já o terceiro deles é realizado através da conhecida “consulta”, onde o atendido2 se posiciona frente a frente com o guia espiritual, lhe explica a razão pelo qual necessita de seu atendimento e em seguida recebe do guia espiritual aquilo que busca, dentro das mencionadas limitações.
Muitos mitos cercam o atendimento individual e fazem com que os adeptos mais carentes de conhecimento enxerguem em tais atendimentos verdadeiros feitos sobrenaturais, o que não deixa de ser até certo ponto, porém cabe ao conhecedor de Umbanda desmistificar tais mitos para que a cada dia a Umbanda possa caminhar à evolução de suas práticas e costumes.
Mito: O guia adivinha meu problema ou lê meu pensamento – Não, o guia espiritual não adivinha seu problema, muitas das vezes o mentor espiritual responsável pelo atendido o acompanha durante o atendimento e, de forma sucinta, relata ao guia que realiza o atendimento quais são as necessidades, problemas e anseios de seu protegido. Claro que tal relato se dá diante do merecimento de conquista do indivíduo – o atendido – portanto, é possível que em determinados atendimentos aconteça certa frustração ao perceber que o guia espiritual não vai praticar a “adivinhação”. Diversos guias espirituais, com objetivo de acabar com a falsa visão de que se realizam adivinhações no terreiro, mesmo quando sabem o que se passa com o atendido, guardam sigilo e respondem somente ao que lhes é perguntado, sob a guarda e respeito do livre arbítrio.
Mito: O guia pode me dar o que eu pedir – Nem de longe esta situação é real. Antes de se pensar em pedir algo deve-se analisar a real necessidade, o merecimento e a situação ética e moral que envolve tal pedido. É comum se encontrar aos pés dos guias espirituais pessoas com o coração partido, desejando com unhas e dentes que a pessoa amada retorne ou que a nova pessoa amada corresponda ao amor até então não correspondido. Ledo engano acreditar que tal feito será realizado por um guia espiritual que trabalha a serviço da luz na Umbanda. Em primeiro porque tal atuação fere o livre arbítrio de um terceiro, o que por si só já é suficiente para que não seja realizado, no mais, ainda existe a falsa sensação de necessidade que ludibria a mente daqueles cujo coração não consegue amar mais a si mesmo do que ao próximo. Um guia de luz sempre vai orientar a seguir em frente e evoluir.
Mito: O guia é meu amigo pessoal – São raros os casos de amizade entre espírito e encarnado durante o período de encarnação. Claro que os guias espirituais tratam a todos com respeito, carinho, amizade e atenção, entretanto é preciso notar que tais características fazem parte do trabalho de acolhimento exercido por tais guias e que o tratamento é igualitário, sofrendo pequenas diferenças apenas para equalizar a necessidade de cada um, dando a quem necessita mais, maior atenção, e menor àquele que de menos necessita. Trate todos os guias espirituais com respeito e notará que todos o tratam da mesma forma.
Dispensados alguns mitos, como devo me comportar em um atendimento?
Durante um atendimento com o guia espiritual se deve ter objetividade, ou seja, não fazer rodeios e não contar histórias, indo direto ao ponto facilita muito o atendimento, pois por vezes os guias espirituais ouvem incansáveis histórias para que, ao final, realizem um trabalho para o qual já estavam aguardando desde o início da conversa.
Jamais peça para outra pessoa aquilo que não gostaria que alguém pedisse para você. Antes de pedir que alguém volte a um relacionamento, largando outra pessoa com a qual se relaciona agora, pense em como você se sentiria se fosse alguém pedindo a pessoa com a qual você se relaciona – ou gostaria de se relacionar. Não peça que coisas sejam tiradas de alguém e nem que algo ruim aconteça com alguém. Quanto mais justo e correto o atendido for, mais fácil será para alcançar o merecimento e obter o que se deseja.
Não ocupe um guia espiritual com repetidas histórias, após pedir ajuda a primeira vez, tenha fé de que ele está atuando por você e simplesmente aguarde os resultados. Conversar com o guia todos os dias sobre o mesmo problema não torna mais fácil a solução do problema, pelo contrário, só aumenta a ansiedade sobre o tema e não permite que o atendido se liberte.
Enfim, a consulta com um guia espiritual é algo que deve ser realizado dentro da medida certa. Muitas das vezes ela é desnecessária e outras vezes simplesmente repetitiva. Consultar-se com um guia espiritual é o que leva muitos a um terreiro de Umbanda, mas nem todos que vão em busca de uma consulta estão prontos para, de fato, realizar uma reforma íntima em benefício próprio, querem apenas encontrar um guia que diga o que querem ouvir.
- No que diz respeito à retirada de doenças físicas, existe uma categoria de médiuns conhecida como médiuns de materialização. Estes médiuns, com auxílio de seus mentores espirituais, podem retirar do corpo de seus atendidos ou de objetos a eles vinculados, elementos que representam a doença ou magia negativa que supostamente estaria afligindo o atendido. Ocorre que tal situação é a materialização de algo energético ou espiritual, não a retirada da doença em si. O tratamento espiritual não dispensa o tratamento junto ao profissional da saúde.
- Aqui foi usado o termo atendido, o qual recebe diversos nomes nas múltiplas doutrinas de Umbanda distribuídas pelo mundo. Encontramos o mesmo indivíduo chamado pelo nome de assistente, assistido, consulente, adepto, cliente, entre outros.