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Conhecimento X Sabedoria

O conhecimento sem a sabedoria é uma faca sem fio. A sabedoria sem conhecimento é a impossibilidade de existência consciente. Muito se fala na Umbanda sobre o aprendizado, alguns dizem que deve ocorrer no chão do terreiro enquanto outros afirmam que o estudo é indispensável.

O que diferencia um método do outro e como se pode buscar um meio de tornar-se uma ferramenta completa e funcional?

Primeiramente se deve compreender a diferença entre conhecimento e sabedoria para que, assim, se possa compreender a diferença entre o aprendizado “semi-acadêmico1” e aquele adquirido no chão do terreiro.

Conhecimento é a informação que foi analisada, compreendida e incorporada. Este deve ser adquirido de forma ordenada, sequencial e não exige a individualização, ou seja, deve ser passado a todos independente de outros aspectos religiosos. O conhecimento deve ser livre e por tratar-se de método ordenado e sequencial, pode conter pré-requisitos, como por exemplo: um conhecimento que o precede como base. Assim, entende-se que, dentro da temática religiosa, o conhecimento deve ser acessível a todos de igual forma podendo qualquer um buscá-lo através do meio mais conveniente e de acordo com a metodologia e o formato que mais se adequa ao seu perfil de aprendizagem.

Por sua vez, a sabedoria é o conhecimento que passou pela análise de valores, crenças, moral e ética do indivíduo. Assim sendo, a sabedoria é individualizada e pode ser diferente para cada pessoa. Esta sabedoria deverá ser estimulada no momento “evolutivo” de cada um – quando a temática é religião – e, desta forma, dentro de um mesmo núcleo religioso existirão diversos entendimentos acerca dos mais variados assuntos.

A Sabedoria não pode ser ensinada ou transmitida e sim apenas estimulada. Devendo, então, aquele responsável por tal estimulo propiciar o conhecimento adequado para que as situações variadas que envolvem a “realidade2” individual de cada um possam amadurecer tal conhecimento gerando então a sabedoria.

Dito isto, pode-se então definir melhor o que vem a ser o aprendizado “semi-acadêmico” e o aprendizado de chão de terreiro.

O aprendizado “semi-acadêmico” é aquele aprendizado formal, adquirido através do estudo e transmitido através de cursos, seminários, palestras e outros formatos comuns ao meio acadêmico. Neste modelo de aprendizado adquirimos o conhecimento, pois recebemos informações completas e ordenadas, não cabendo a quem transmite definir o que deve ou não deve ser transmitindo, tratando-se então de um estudo clássico onde determinados temas deverão ser integralmente abordados, ficando a critério de quem transmite apenas determinar os pré-requisitos para ingresso no “grupo de estudos” e quais serão as temáticas abordadas, que deverão ser esgotadas completamente.

Neste formato de aprendizado é possível implementação doutrinária, ou seja, é possível que se inclua no estudo um viés específico a determinado grupo de prática, cabendo ao estudante decidir se aquele conhecimento transmitido é completo para si ou se existirá a necessidade do aprofundamento teórico a respeito. Ainda sobre este formato, ele pode ser unicamente teórico, unicamente prático ou misto, contendo teorias e práticas, e seu objetivo é formar religiosos conscientes e possuidores de todos os argumentos e fundamentos que envolvem sua prática religiosa.


“A prática da religião deve ser consciente e cada indivíduo deve ter domínio sobre suas práticas para que estas sejam seguras”

— Pai Beto Angeli

Quando se fala em chão do terreiro entende-se que o indivíduo, portando o conhecimento, será submetido às práticas do dia a dia e aos ensinamentos orais e aleatórios trazidos por sua ancestralidade – mais velhos e mentores – e, então, poderá com a prática estabelecer padrões comportamentais e adquirir a sabedoria religiosa a fim de, com ela, auxiliar a quem necessita. Desta forma o indivíduo tem a missão de converter o conhecimento adquirido em sabedoria, tornando-se completo e apto a dar prosseguimento aos preceitos religiosos.

Portanto, é no dia a dia dos trabalhos de Umbanda que cada umbandista observa a prática de trabalhos e ouve dos mais antigos na religião, bem como das entidades espirituais, conselhos e pérolas de sabedoria que darão a liga necessária para que o conhecimento adquirido ganhe consistência e tenha sua efetividade plena.

Desta forma pode-se afirmar com segurança que o conhecimento não tem valor sem a sabedoria e que a sabedoria não prospera sem o conhecimento, sendo um entranhado no outro.

Assim sendo, apenas estudar Umbanda não é suficiente. Apenas frequentar os trabalhos de um terreiro não é suficiente. É preciso juntar ambos para que se tenha pleno domínio daquilo que se faz.


“Conhecimento sem sabedoria é uma faca sem fio, sabedoria sem conhecimento é a impossibilidade de existência consciente.”

— Pai Beto Angeli

  1. Semi-Acadêmico – o termo semi-acadêmico refere-se a estudos que, apesar do aspecto acadêmico, não tem lastro em ciência e, portanto, muitas das vezes é baseado em dogmas doutrinários que serão apresentados de forma ordenada para nutrir determinada comunidade religiosa, sem que para isso renegue conhecimentos equivalentes, porém distintos, apresentados em outras vertentes da mesma religião.
  2. Realidade – por realidade entenda-se o contexto de vida, de mundo, os aspectos culturais e sociais que cercam o indivíduo dando a ele seu perfil único.